A censura do Império Russo
Em 09 de janeiro de 1905 ocorreu o "Domingo Sangrento", um dos primeiros acontecimentos que desencadearam a Revolução Russa. No episódio, tropas imperiais massacraram mais de mil pessoas durante uma manifestação pacífica de trabalhadores na capital do Império Russo. A brutalidade com que a passeata foi reprimida indignou todo o país, resultando em diversas manifestações de protestos, entre elas, a dos estudantes do Conservatório de São Petersburgo.
Por conta disso, o diretor do conservatório chamou a polícia para fechar o grêmio estudantil. Rimsky-Kosarkov, professor do centro musical desde 1871, ficou do lado dos alunos e publicou, no jornal liberal "Róssia", uma carta aberta onde contestava energicamente a postura do diretor e da polícia. Em função desta carta, a escola foi fechada e mais de cem alunos foram expulsos. O compositor foi demitido do conservatório e renunciou ao cargo de sócio honorário da Sociedade Musical Russa. O afastamento de Rimsky-Kosarkov da escola provocou o pedido de demissão de boa parte do corpo docente.
Na seqüência, ele começou a reger concertos em benefício dos operários em greve e dos desempregados e continuou a dar aulas em sua própria casa, pois se recusava a abandonar os alunos que haviam sido obrigados a deixar os estudos injustamente. Devido às atitudes que tomou, o compositor passou a ter sérios problemas com a censura imperial, tendo várias de suas obras censuradas por um longo período. "Só se pode explicar tal exagero de meus méritos e de minha pretensa coragem cívica pela agitação que reinava na sociedade russa [...]. De minha parte o amor próprio não experimentava satisfação alguma [...]. Minha situação era absurda e insuportável. A polícia mandou proibir a apresentação de minhas obras em São Petersburgo. [...] No verão seguinte, começaram a esquecer essa proibição estúpida e minhas obras voltaram a aparecer em programas de concerto dos teatrinhos do subúrbio. Mas na província, os 'censores' continuavam a achá-las revolucionárias por longo tempo", disse o compositor.
Rimsky-Korsakov e o Rio de Janeiro
Depois de formar-se na Guarda Marinha Russa, Nikolay Rimsky-Korsakov teve de prestar, como exigia o regulamento, ao menos dois anos de serviço em um navio escola. Viajou --de 1862 a 1865-- em um cruzeiro de treinamento na embarcação de guerra Almaz (diamante). Em julho de 1864, o Almaz aportou no Rio de Janeiro, onde ficou retido por bastante tempo para fazer reparos em duas máquinas. Em memórias, publicadas em 1909, o compositor faz uma descrição muito positiva do Brasil ao dizer que se impressionou pelas cores, pelos aromas e pela luminosidade do país. "Que lugar! A baía, fechada por todos os lados, mas espaçosa, é rodeada por verdes montanhas cobertas pelo Corcovado. [...] É junho, mês de inverno no hemisfério Sul. Mas que maravilhoso inverno abaixo do Trópico de Capricórnio. O novo mundo, o hemisfério Sul, um inverno tropical em junho. Tudo é diferente, não como na nossa Rússia", afirmou Rimsky-Korsakov.
Tratado de orquestração
Rimsky-Korsakov escreveu um tratado de orquestração que foi muito utilizado pelos estudantes de composição durante o século 20. Atualmente, no entanto, o tratado tem sido menos adotado por causa dos exemplos de instrumentação, que trazem apenas obras do próprio compositor.
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