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terça-feira, 22 de dezembro de 2009

Teoria Musical - Com Exemplos na Obra Beatles (I)

Este post tem um propósito sobretudo introdutório. Assim sendo, não nos perderemos em digresses sobre teoria da música, explicações sobre funções harmônicas e outras técnicas que interessam unicamente àqueles que já conhecem música. Isso, porém, não nos impede de conhecer alguns elementos que formar a música. Sem sermos exaustivos em nenhum aspecto, daremos apenas uma breve introdução aos principais termos e questes musicais. Semelhante, em tudo e por tudo, as Formas Musicais, também disponíveis neste Blog.

Para facilitar a vida de todos, os exemplos foram retirados unicamente de obras dos Beatles. Pode parecer um sacrilégio aos defensores de uma arte erudita pura e livre de contaminações populares, mas não estamos escrevendo para eles. Interessa-nos fornecer os subsÌdios para o leigo compreender e, se Deus (ou qualquer entidade abstrata na qual você creia) quiser, apreciar.



1 – O que é música

Boa pergunta. Existem dezenas de respostas, desde as mais objetivas até divagações filosóficas. De um modo geral, música é a arte de combinar sons. Até o século XX procurava-se distinguir a música do barulho, mas hoje qualquer coisa é música, assim como qualquer lixo é chamado de obra de arte. Decorrência do século.

Cada vez que alguém fazia uma inovação havia sempre uma corrente de estudiosos e entendidos para proclamar que "isso não é música!". Todos os grandes compositores foram ignorados por seu tempo, criticados, atacados e mesmo esquecidos. Isto é justamente o que os fez grandes.

2 – De que é feita música

Ignorando todas a inovações, como música concreta e outros bichos, música é feita de sons definidos. O que é um som definido? Uma determinada vibração que pode ser medida. Isso entra na parte física de propriedades do som, mas, como bons jornalistas, não entendemos nada de física. Portanto, vamos ao que interessa.

Música é feita de sons. Certo. Todas as melodias, todas as músicas escritas até hoje foram feitas com 12 sons. Ei, mas as notas musicais não são sete? Sim, são sete: dó, ré, mi, fá, sol, lá, si. Mas se você olhar no teclado do piano, verá que entre estas sete notas existem outras 5, as chamadas "teclas pretas". Eu sei o quanto é difícil para estudantes na área de humanas, mas, com o auxílio de um computador, temos que 7 + 5 = 12. Oh, doze! Isso mesmo, 12 notas.

Agora você deve estar se perguntando: que história é essa de 12 sons se o piano tem 88 teclas? É verdade.

O caso é o seguinte: os sons se repetem a cada 12. Usando como exemplo o teclado de um piano, veja que as teclas estão dispostas de maneira uniforme. Se pressionarmos uma tecla ao acaso, ouviremos um som. Seguindo essa tecla, pressionando a que fica à sua esquerda (seja branca ou preta) temos outro som. Repetindo esse movimento 11 vezes, a décima segunda nota será igual àquela primeira. Igual não, mais aguda.

3 – Qualidades dos sons

Todo mundo sabe o que é agudo e grave, por isso não vou perder tempo explicando. Não obstante, os sons não são apenas "graves" ou "agudos". E daí?

Altura

Bem, temos doze sons que se repetem em alturas diferentes. Referimo-nos à altura do som quando queremos explicar que ele está mais agudo ou mais grave. Um som é alto quando é agudo; dizemos que um som é baixo quando ele é grave.

Volume

Veja bem, a altura de um som não NÃO NÃO se refere ao volume do som. Quando sua mãe grita desesperada "ABAIXA ESSE MALDITO SOM" ela está cometendo um erro. O que ela quer é que você diminua o volume de som. O volume do som é medido em graduações que vão de forte a fraco – ou, se preferir, compre um aparelho e meça em decibéis.

Então, só para você não esquecer:

Som Alto = agudo

Som baixo = grave

Som forte ou fraco = refere-se ao volume, o que o senso comum chama de "alto e baixo".

Timbre

Não, não comecei a falar em inglês. Me diz uma coisa, como é que se diferencia uma guitarra de um trombone? "O som é diferente", você vai responder. Ótimo, você disse o óbvio. E se os dois estivessem tocando a mesma nota? Hum... ainda assim seria diferente. Por quê? Por que esses instrumentos tem timbres diferentes. Timbre é a qualidade que permite distinguir um som do outro. Assim, dizemos que um trombone tem um timbre diferente de um violão.

Teoria Musical - Com Exemplos na Obra Beatles (II)

4 – Muito interessante, não? Descobrimos que os sons têm alturas, timbres e volumes diferentes. Eu disse que música é a combinação desses sons. E como podemos combinar os sons? Para responder a essa obsedante pergunta, precisamos destrinchar a própria música. Quais os elementos que compõe uma música? Vimos que são os sons. Mas vamos ver melhor a questão.

Em qualquer manuel de música você vai encontrar esta simpática definição: "a música é dividida em três elementos: melodia, harmonia e ritmo". Bom, para nós, que sabíamos até agora que música é a arte de combinar sons definidos, dizer que a música é feita de Harmonia, Melodia e Ritmo parece grego. Mas não se preocupe. Em alguns instantes saberemos o que significa cada um desses termos.

Vamos usar como exemplo "With a little help from my friends". Ouça-a. Novamente. Podemos distinguir as três partes principais da música, aquelas que falamos acima:

Melodia – voz do Ringo

Harmonia – os acordes de guitarra do John

Ritmo – a bateria do mesmo Ringo e o baixo de Paul

A voz de Ringo canta uma sequência de sons. Um após outro, cada sílaba da letra corresponde a um som. Enquanto isso, os instrumentos acompanham. Acompanhar significa tocar outras notas que combinem com a que está sendo cantada. É o que John, George e Paul estão fazendo. Além disso, a música tem uma pulsação constante. Isso pode ser sentido; é essa pulsação que permite que você acompanhe com palmas. Experimente. Sim, eu sei, sua família vai achar que você não é normal, tudo bem, mas tente. Marque essa pulsação. Acompanhe-a. O que achou? O ritmo da música!

Então, descobrimos que melodia são os sons tocados em sequência, um após outro; harmonia são os sons tocados ao mesmo tempo (são os acordes, os famosos acordes nada mais são que sons tocados ao mesmo tempo) e o ritmo, ou seja a pulsação da música.

Quer outro exemplos?

A – Em Octopus’ Garden, do Abbey Road, o começo da música é uma melodia. Não há harmonia nem ritmo marcado, apenas a melodia.

B – No mesmo disco, ouça o começo de Polythene Pam. A música começa com três acordes, isto é, três harmonias.

C – No Album Branco, disco 1, ouça o começo de Back in to the USSR. A bateria e o piano marcam o ritmo. Um piano marcando ritmo?

Uma pergunta: quando eu falo em ritmo estou obrigatoriamente falando em uma bateria? Não. O ritmo pode ser marcado por qualquer instrumento. No Rock’N’Roll é justamente isso que faz a guitarra-base. Marca o ritmo. Assim como a guitarra, qualquer instrumento pode marcar o ritmo, isto é, indicar a pulsação da música.

Às vezes, um mesmo instrumento marca o ritmo e a faz a harmonia: a guitarra base, por exemplo, marca o ritmo e faz a harmonia. Em um piano é possível marcar o ritmo, tocar a harmonia e uma melodia ao mesmo tempo.

5 – Andamento, velocidade e ritmo

Precisamos deixar claro uma coisa: ritmo não tem nada a ver com velocidade. Quando dizemos que "este ritmo é rápido" estamos falando uma asneira. Os ritmos podem ser tocados em uma velocidade mais rápida ou mais lenta. Por isso, podemos ter um ritmo de valsa mais lento ou mais rápido, um Rock mais lento ou mais rápido. Só que, em música, não chamamos isso de velocidade, mas de andamento.

Muita gente fala em "ritmo de Rock", "ritmo de samba". Isto se refere à diferença na batida, isto é, na pulsação da música. A velocidade desta pulsação NÃO é o ritmo, mas o andamento. Logo,

Ritmo = pulsação da música

Andamento = velocidade

Quer um exemplo? No Abbey Road, lado B, há um medley: Golden Slumbers, Carry That Weight, The End. O ritmo, isto é, a pulsação das três músicas é igual, mas o andamento, isto é, a velocidade, é diferente.

Se o ritmo não tem a ver com a velocidade, como distinguir um ritmo de outro? Simples, pela batida, pela pulsação da música. Toda música oferece uma batida praticamente constante, repetindo-se sempre. Mas você pode reparar que, no decorrer de uma música, umas batidas são fortes e outras são fracas. Para entender melhor isso, ouça o começo da faixa 12 do Sgt. Pepper, justamente a reprise da faixa-título. Repare que a pulsação é contínua, mas algumas batidas são mais fortes e outras mais fracas. É justamente pela alternância dessas batidas, mais fortes ou fracas, que dizemos se um ritmo é Rock, Blues, bolero...

Três exemplos clássicos:

* Rock costuma ter um batida forte, uma fraca, uma mais forte seguida de uma fraca – e isso se repete por toda a música.

* A valsa, por outro lado, tem uma batida forte seguida de duas fracas.
* As marchas costumam ter uma batida forte e uma fraca



Mas não quero enganar ninguém: isso não se aprende com teoria. Só ouvindo música e tentando acompanhar o ritmo certo. Não se envergonhe de bater com as mãos, com os pés, na cabeça do seu (sua) irmão (ã), etc. O importante é que você treine.

Procure sentir a batida da música, procure sentir o ritmo. Depois de acompanhar o ritmo com as mãos, tente reparar quais são as batidas fortes e quais são as batidas fracas. Claro que músicas como o "Sgt. Pepper" são mais fáceis, pois a bateria do Ringo deixa bem claro quais são as batidas fortes e fracas. Mas não tem problema, é bom começar com coisas simples.

Teoria Musical - Com Exemplos na Obra dos Beatles (III)


6 – A escrita musical



Eis o momento daquela célebre pergunta: como toda essa teoria sobre ritmos, harmonias, andamentos e o demônio (?) pode ser passada para o papel?

Hum... eis uma questão difícil. Há toda uma história por trás do nosso sistema de notação musical, mas não vem ao caso agora. Buscamos aqui a praticidade, não a teoria excessiva.

Como é que se representa a fala humana? Quando quero representar o som "Pa" (de Palmeiras) uso dois sinais gráficos que representam esse som, o "p" e o "a". Veja que a escrita, por si só, já é a representação de sons. E quando eu quero representar uma música? Uso um procedimento semelhante, usando símbolos para representar um som.

Para representar a fala usamos 23 letras, cada uma correspondendo a um som.

Para representar a música usamos notas musicais. Quais são elas?

semibreve = Que vale quatro tempos em compasso de denominador 4

minima = Que vale 2 tempos em compasso de denominador 4

seminima = Que vale 1 tempo em compasso de denominador 4

colcheia = Que vale 1/2 tempo em compasso de denominador 4

semicolcheia = Que vale 1/4 de tempo em compasso de denominador 4

fusa = Que vale 1/8 de tempo em compasso de denominador 4

Esses sinais assustam qualquer um, mas basta saber usá-los e o medo desaparece. Cada uma dessas notas tem seu nome próprio:

Todas elas representam sons. Qual a diferença entre ela? O valor.

Um detalhe antes de continuarmos: pouco importa se a nota está com o colchete para cima ou para baixo. Na prática, isso é apenas questão de facilitar a leitura.

7 – Valores

Quando falamos no valor de uma nota, estamos nos referindo à sua duração. Em música estamos sempre lidando com tempo (Einstein tocava violino, se é que isso é confortador...). Voltando ao assunto, é comum encontrar nos sacrossantos manuais musicais a seguinte definição: "Uma semibreve vale duas mínimas, uma mínima vale duas semínimas, etc...".

Isso quer dizer, na prática, que uma semibreve dura o mesmo tempo de duas mínimas. Uma mínima vale o mesmo tempo que duas semínimas, e assim por diante.

Ah, em música, quando falamos em tempo, podemos estar nos referindo à duas coisas: a duração (minutos, horas, segundos) ou às batidas (cada batida chama-se tempo)

Lembra aquela história de ritmo, andamento, etc? Pois bem, vamos aplicar as idéias que aprendemos. Por idiota que pareça o exercício que faremos, é útil para fixarmos conceitos.

Pegue um relógio, de preferência um que marque também os segundos. Acompanhe os segundos e bata as mãos uma vez por segundo. Está seguindo um ritmo, não está? Está. Agora, bata as mãos duas vezes por segundo. Tente bater as mãos 4 vezes por segundo.

Ótimo. O que aconteceu?

Repare que o número de batidas aumentou, mas o intervalo principal de tempo permaneceu o mesmo. E daí?

Ora, supondo que uma semibreve valha 1 segundo, (calma, logo veremos que esse valor varia de acordo com a vontade do compositor) ao bater as mãos uma vez por segundo, você descobriu uma semibreve. Ao bater duas vezes, viu a semibreve ser dividida em duas, ou seja, você bateu duas mínimas. Ao bater 4 vezes, a semibreve foi dividida em 4 – ou cada mínima foi dividia em duas.

Muito bem, agora que conhecemos as notas e seu valor, vamos ver como agrupá-las, de maneira a dar sentido a um pensamento musical. Da mesma maneira que o texto é agrupado em frases e parágrafos para se tornar compreensível, a música é dividida em compassos.

Teoria Musical - Com Exemplos na Obra dos Beatles (IV)

8 – Compassos – Primeira Parte

O que define um ritmo são as batidas, lembra-se? Só para lembrar, o Rock costuma ter um batida forte seguida de três fracas; a valsa, por outro lado, tem uma batida forte seguida de duas fracas; as marchas costumam ter uma batida forte e uma fraca.

Essas batidas repetem-se continuamente durante a música. Para que saibamos qual é a batida forte e a fraca, nem sempre basta ouvir. Por exemplo, no começo de Sun King, do Abbey Road, não há nenhum instrumento marcando o ritmo. Não há marcação, mas o ritmo está implícito. Repare: quando eles cantam "Here", é possível marcar quatro batidas. "Comes", três batidas e "the" uma. "Sun" e "King", mais quatro batidas. Por que conseguimos sentir o ritmo mesmo sem a marcação? Porque a música está dividida em compassos.

Um compasso é a reunião do número mínimo de batidas para definir um ritmo. Por exemplo, em uma valsa, o conjunto de uma batida forte seguida de duas batidas fracas são um compasso. Na marcha, cada batida forte seguida de uma fraca é um compasso.

Os tempos de um compasso não precisam ser marcados por algum instrumento. Outra coisa, essencial, O NÜMERO DE TEMPOS DE UM COMPASSO NÃO PRECISA SER O MESMO NÜMERO DE NOTAS! Quer um exemplo? Em "Sun King", a palavra "King" é cantada sobre uma só nota, que ocupa todo o compasso. Ou seja, enquanto tocamos essa nota, contamos as quatro batidas normais. Temos uma nota ocupando o compasso todo. No final da música, quando eles cantam "Mondo papparazzi mi amore de felice..." eles estão cantando oito notas, mas o compasso continua a ter quatro tempos, ou seja quatro batidas. No primeiro caso, as quatro batidas foram agrupadas em uma só nota. No segundo, as quatro batidas foram divididas em oito notas, isto é, a cada batida cantavam-se duas notas.

Por que dividir os compassos?

Para o músico saber qual acentuação dar à música. Quando falamos em acentuação, não estamos nos referindo à isto `~ ^, mas à batida forte de um compasso. As palavras não têm sílabas fortes e fracas – tônicas e átonas, como você aprendeu na 5ª série? A música também, um compasso tem batidas fortes e fracas, como falamos anteriormente. É justamente para saber qual deve ser a acentuação, isto é, quais as batidas fortes e fracas que a música é dividida em compassos.

Os compassos são classificados de acordo com o número de batidas (tempos):

Binários: tem duas batidas – uma forte e uma fraca

Terciário: três - uma forte e duas fracas

Quaternário: quatro - uma forte, uma fraca, uma menos forte e outra fraca

Como você viu, a primeira batida de um compasso sempre é forte. Indicamos no começo de uma partitura qual é o compasso que estaremos seguindo, especificando sempre quantos tempos, isto é, batidas, teremos por compasso. Mais uma vez: dizer que eu tenho três batidas em um compasso não quer dizer que eu tenho três notas.

9 – Compassos II – O Retorno

Ouve-se frequentemente dizer: "ah, tal música está em 3 por 4". Que quer dizer isso? Uma parte nós sabemos decifrar: dizer que uma música está em três (ou dois, ou quatro, ou cinco, ou dez) por alguma coisa significa que o compasso terá três (ou dois, ou quatro, ou cinco, ou dez) batidas. Mas que raios quer dizer o quatro?

Muito bem... da mesma maneira que convencionou-se chamar as notas de Semibreve, mínima, etc., decidiu-se atribuir-lhes valores numéricos. Dessa maneira, convencionou-se que:

semibreve = 4t em x/4

minima = 2t em x/4

seminima = 1t em x/4

colcheia = 0,5t em x/4

semicolcheia = 0,25t em x/4

fusa = 0,125t em x/4...

Temos aqui que, quando alguém fala em "3 por 4", sabemos que, nessa música, cada compasso terá 3 tempos. E, agora, sabemos que cada tempo será representado por uma semínima, ou seja, a nota que corresponde ao número 4. Isso mesmo, o número 3 é o número de batidas, o número 4 indica qual nota representa UMA batida. Logo, no compasso 3 por 4 (geralmente representado 3/4) teremos, no máximo, três semínimas por compasso.

Todavia, se fosse só isso, ficaria cansativo, por todos os compassos teriam que ter três semínimas. Mas, como vimos, isso não é necessário. Um compasso 3/4 não precisa TER três mínimas, mas o EQUIVALENTE à isso. Ora, desse modo, podemos ter uma mínima e uma semínima. Por quê? Porque duas semínimas valem uma mínima. Logo, se temos uma mínima e uma semínima temos 2+1 que resultam nos três tempos. (lembre-se, 2+1=3)

Neste momento você deve estar se perguntando: "hum, mas como eu vou saber se um compasso é 4 por 4, 4 por 8, 4 por 2, se eu só consigo contar – ouvindo – o número de batidas, sem saber qual a unidade que a representa?" A resposta é simples: dane-se. Pouco importa, ao ouvir, se uma música é 4/4, 4/8, 4/16 ou o demônio. O importante, por enquanto, é conseguir contar as 4 batidas do compasso. Mesmo porque não há diferença perceptível e, salvo chatos de plantão, a maior parte das músicas atualmente adota o formato alguma-coisa/4

Voltando ao exemplo de "Sun King": temos um compasso 4/4. Ou seja, em cada compasso teremos 4 batidas. Cada batida será representada por uma semínima. Nessa música temos um exemplo perfeito da soma e divisão dos tempos. No primeiro compasso, temos uma semibreve (que, como se lembram, vale 4 semínimas). Ocupa o compasso inteiro, pois é a reunião de quatro notas.

Mas, e se nossa intenção fosse preencher um compasso * com uma só nota? À priori (hahaha) veremos que é impossível, pois só conhecemos valores binários. Como fazê-lo?

10 – Valores quebrados

Vimos que uma semibreve vale duas mínimas, que valem duas semínimas, etc... Mas são todos valores derivados do número dois.

Isso é fácil de resolver: para representarmos esses valores, basta colocar um ponto na frente da nota. Esse ponto, chamado Ponto de Aumento, aumenta a nota em metade do seu valor. Calma, eu explico.

Uma mínima não vale duas semínimas? Ok, então uma mínima pontuada vale uma mínima mais metade do seu valor, isto é, mais uma semínima.

minima = minima + seminima ----- 3 tempos = 2 tempos + 1 tempo

Dessa forma, podemos preencher um compasso * com uma mínima pontuada, pois ela representa 3 tempos. Isso se aplica a todas as notas. Todas mesmo. Repare que interessante, uma regra sem exceções...

11 – Aplicações

Chega de teoria. Vamos à prática: ouça as seguintes músicas e tente descobrir o compasso de cada uma delas. Uma dica: o número de batidas, que vai determinar o compasso, não é o mesmo número de notas que você ouve. Outra dica: todas as músicas aqui usam compassos 3/4 ou 4/4:

Help!

Golden Slumbers

She’s leaving home

I should have known better

Lucy in the sky with diamonds

Dig a Pony

Acabou? Ótimo, agora escolha algumas músicas aleatóriamente e escute, tentando adivinhar o compasso.

Teoria Musical - Com Exemplos na Obra dos Beatles (V)

Agora que já sabemos dominar o ritmo, conhecemos compassos, precisamos preenchê-los de maneira racional. Ou seja, escrevendo melodias. Essa parte é relativamente simples: à cada som equivale um espaço no pentagrama. Hein? É, pentagrama, aquelas cinco linhas encontradas nos cadernos de música. Escrevemos música no pentagrama.

Cada nota representa um som. Para facilitar o entendimento, usa-se uma série de convenções para mostrar que determinada nota representa um som.

Isso é feito tomando como referência uma nota. Usa-se um sinal – chamado "Clave" - no começo do pentagrama (também chamado de pauta) para indicar que todas as notas escritas em uma determinada linha representarão um determinado som. Conheça as principais claves utilizadas:

Clave de Sol

Clave de Fá

Quando vemos em uma pauta a clave de sol, saberemos que a nota escrita na segunda linha de baixo para cima é a nota "sol" logo acima do dó central do piano. Simples não? As notas escritas nas linhas e espaços acima da segunda linha seguem a mesma ordem do teclado.

Por exemplo, qual nota, no teclado do piano (ignorando as teclas pretas. Por enquanto elas não existem para nós), vem logo depois do sol? O lá, isso mesmo. Bem, se no teclado a nota que vem depois é o lá, na partitura a nota que está no espaço imediatamente superior ao sol é o lá. Veja que interessante: estamos escrevendo o lá não sobre uma linha, mas sobre um espaço entre as linhas. Isto é importante: escrevemos música utilizando-nos das linhas e dos espaços.

Da mesma maneira que fizemos com o lá, façamos ao contrário. Vamos ver qual é a nota que vem antes do sol. É um fá. Se vem antes no teclado, vem embaixo na partitura. Usamos então o espaço abaixo da linha do sol. Vamos descer mais uma. Que nota vem antes do fá? O mi. Na partitura, escrevemos essa nota embaixo do fá. Como o fá foi escrito em um espaço, o mi será escrito em uma linha.

Chegamos em um problema: se descermos mais uma nota, teremos um ré. Só que acabaram-se as linhas e os espaços. Que fazer? Conseideramos que abaixo da última linha temos mais um espaço, onde escreveremos o ré. E se descermos mais uma nota no teclado? Teremos um dó. Mas como representá-lo na partitura, se não existem mais linhas ou espaços? Simples: traçamos uma pequena linha, onde escreveremos esse dó – por coincidência, o dó central do piano, aquele que fica perto da fechadura. Essas linhas (pode haver mais de uma) são chamadas linhas suplementares, e podem aparecer tanto acima quanto abaixo da pauta.

Se continuarmos descendo, nota por nota, verificaremos que é impossível ler muitas linhas suplementares. Não obstante, ainda faltam muitas notas do teclado para serem representadas. Para resolver isso, usa-se outra clave, a clave de fá.

Colocada sobre a 4 linha de baixo para cima, ela indica que todas as notas escritas nessa quarta linha representam o primeiro fá abaixo do dó central. Dessa maneira fica muito mais fácil escrever as notas graves.

Teoria Musical - Com Exemplos na Obra Beatles (VI)

13 – Escalas e tonalidades

Criar melodias, ou seja, compor música, é uma arte que não se ensina. Mas, do mesmo jeito que aprendemos a escrever sem ter a obrigação de nos tornamos escritores, podemos aprender a escrever música.

Uma vez que já conhecemos ritmo e melodia, usemo-los. Como criar uma melodia? Sei lá, invente uma. Não consegue? Tudo bem, não tem problema. Vamos usar uma já feita por aqueles cabeludos de Liverpool.

Vejamos o primeiro compasso de "Across the Universe", do Let it Be.

Observando atentamente, quais elementos podemos identificar? Bom, vemos que o compasso é 4 por 4, ou seja, temos 4 batidas, sendo que cada batida é representada por uma semínima. Temos duas semínimas e quatro colcheias (que valem 2 semínimas, como se lembram). Isso é o que podemos identificar.

Repare que no começo da partitura existem dois sinais #. O que representam?

Até agora falamos de músicas, mas nos limitamos exclusivamente às teclas brancas do piano. Se estão bem lembrados, quando aprendemos a escrever as notas só soubemos como escrever as brancas. E as tais teclas pretas? Como se chamam? Para que servem? É o que veremos agora.

Frequentemente escutamos que "tal melodia está em um tom muito alto." "Tom" de uma melodia representa em que escala foi escrita.

Isso requer um pouco de atenção:

Se tocarmos, no piano, uma escala, teremos um determinado som. Se começamos esta escala pelo dó, tocando todas as teclas brancas até atingirmos o outro dó, temos uma escala, isto é, um conjunto de notas. Esta escala que tocamos é a de dó maior, a mais simples que existe.

E se tivéssemos começado pelo ré, ou pelo fá, ou por qualquer outra? Teríamos, com efeito, outra escala. Só que, como você deve ter notado, o conjunto de sons é muito diferente daqueles obtidos quando tocamos de dó a dó. Por que isso?

Porque os intervalos são diferentes. Ah sim, o que é intervalo? É a distância entre uma nota e outra. Não, não é medida em centímetros, mas em tons e semitons. Um semitom é a menor distância existente entre duas notas. No teclado do piano, temos um semitom se tocarmos uma nota qualquer e a nota que estiver ao seu lado, seja branca ou preta. Experimente. Ótimo, isso é um semitom.

E um tom? É a soma de dois semitons. Agora raciocine comigo:entre uma tecla e a que está ao seu lado temos um semitom. Se tocarmos outra imediatamente ao lado, não teremos mais um semitom? Sim. Logo, semitom+semitom = tom.

Todas as escalas são formadas de conjuntos de tons e semitons, dispostos em uma ordem que se convencionou chamar de TEMPERADA:

Tom-tom-semitom-tom-tom-tom-semitom

Enrolou a língua? Ótimo, estamos no caminho certo. Essa escala de tons e semitons, (5 tons e 2 semitons) à qual os ouvidos ocidentais estão acostumados, é encontrada naturalmente se começamos a tocar de um dó a outro. Mas, se começamos a tocar a partir de um ré, não temos os intervalos descritos acima, mas

Tom-semitom-tom-tom-tom-semitom-tom

Diferente, portanto, do que estamos acostumados. Temos 5 tons e 2 semitons, mas dispostos de maneira diferente. Todavia, existe um meio de corrigir isso: basta usarmos as teclas pretas do piano, de maneira a, mesmo começando de uma nota diferente, obtermos a mesma combinação de sons do dó.

Para isso usamos os SUSTENIDOS e BEMÓIS, que elevam ou abaixam qualquer nota em * tom – ou seja, um semitom. Por exemplo, na começando pelo ré, temos que fazer o segundo intervalo, que é de meio tom, tornar-se um tom inteiro. Para isso, temos que acrescentar um sustenido à terceira nota, o fá. Portanto, já sabemos que na escala de Ré, o fá é sustenido.

Se continuarmos a observar as diferenças, veremos que os últimos tons e semitons estão invertidos nas escalas. Precisamos alterá-lo, fazendo com que o último intervalo seja um semitom. Como? Acrescentando um sustenido à última nota, o dó. Então, o dó, na escala de Ré, também é sustenido. Com o fá e o dó sustenidos, ou seja, elevados meio-tom, temos a escala original, com os mesmos intervalos da escala de dó:

Tom-tom-semitom-tom-tom-tom-semitom

Para não termos que ficar escrevendo, durante toda a música, o fá e o dó sustenidos, colocamos no começo da pauta os símbolos do sustenido diante das linhas ou espaços correspondente a essas notas, de maneira que, ao tocá-las, o executante saberá que deve tocar todos os fás como fás sustenidos, idem com os dós.

Ao tocarmos "Across the Universe", não precisamos escrever na partitura todos os sustenidos fixos, bastando indicá-los no começo da partitura.

Da mesma maneira que construímos a escala de Ré a partir da nota ré, podemos construir todas as outras escalas a partir de qualquer nota. Basta, para isso, adaptarmos os intervalos dessas escalas para ficarem iguais aos da escala de dó. Ás vezes, para alterarmos uma nota, ao invés de elevá-la meio tom precisamos abaixá-la. Para isto existe o sinal bemol, que diminui em meio-tom a nota.

14 – Escalas 2 – Convenções convencionais convencidas

Mas não precisa se desesperar, tampouco perder o sono tentando descobrir quais os tons que devem ser alterados para obtermos uma escala temperada, isto é, com intervalos iguais aos de dó maior.

É simples: quando dizemos que uma música está em Mi, por exemplo, basta lembrar que nesta escala as notas fá, dó, sol e ré são sempre tocadas como sustenidos. O mesmo vale para qualquer escala.

15 – Bequadros

Em três linhas: bequadros são sinais que, colocados antes de uma nota, anulam qualquer efeito dos sustenidos ou bemóis colocados no início da partitura. Trocando em miúdos, quando uma nota vier precedida de um bequadro, toque a nota branca. E se você estiver tocando violão? Se vira, toca a nota normal, chamada tecnicamente de natural.

16 – Conclusão

Claro que só com esse resumão você não se tornou um expert em música, muito menos em música clássica. Mas, como já disse, estes posts são apenas uma introdução. Ouça, ouça, ouça muito. A melhor maneira de aprender é conhecer as melhores obras. Como lembram dois filósofos franceses, Andre Vergez e Dennis Huisman, não é ouvindo o som dos pássaros que passamos a entender música, mas indo aos concertos. À propósito, sabe o que vai ter neste domingo no Parque do Cocó ou no Teatro José de Alencar?

Abraços a todos!
Maestro - Roberto Holanda

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Binaural Recording

Hoje em dia todo mundo quer ter um home-theater com caixas de som 5.1 (ou mais) para curtir toda aquela imersão sonora que o som espacial permite. Porém, existe uma técnica muito ignorada que dá um efeito muito superior, e usando fones de ouvido comuns: o esquema Binaural Recording, ou “gravação bináurea”.

Não, não estamos falando daqueles fones multimídia que possuem 3 conectores estéreo, que são ligados às saídas de uma placa de som 5.1 e que reproduzem todas elas dentro do fone. Nada disso. Estamos falando de você usar fones de ouvido comuns e sentir uma imersão que não deixa nada a desejar ao melhor home-theater em termos de imersão, uma sensação que é simplesmente indescritível.

Então, nada melhor do que ouvir uma demo do efeito chamada “Luigi’s Virtual Haircut”, que simula uma ida a um engraçado barbeiro italiano e seu assistente Manuel — o áudio está em inglês, mas mesmo assim a demonstração não deixa de impressionar. Confira — sem esquecer dos fones de ouvido:

Incrível, não?

Isto é possível usando um esquema de gravação com dois microfones, cada um dedicado a captar o que seria um dos ouvidos, que ficam afastados a cerca de 18 centímetros um do outro. Em tese, isto simula a zona neutra que existe entre nosso ouvidos e permite a captação do som de maneira mais real. Mas não é só isso: o processo mais profissional inclui ainda microfones de alta sensibilidade, que são colocados dentro de um molde de uma cabeça humana, de forma a simular todo caminho percorrido pelas ondas sonoras através de nossas orelhas.

O esquema Binaural Recording emprega dois microfones posicionados a simular a posição dos ouvidos humanos
O esquema Binaural Recording emprega dois microfones posicionados a simular a posição dos ouvidos humanos

Este é o segredo do tal “efeito”. Porque, como diz o próprio personagem Luigi, da demonstração acima, não há efeito algum, e sim o processamento natural do cérebro, que distingue variações de força, tom e equalização e calcula, automaticamente, a distância e a posição do que é escutado. Ao tocar o arquivo em fones de ouvido, nosso cérebro é automaticamente enganado e nos leva a acreditar que o que estamos ouvindo está se posicionando de maneiras diferentes.

Apesar de parecer novidade, o esquema de gravação bináurea foi inventado em 1881, e veio se popularizar 40 anos depois, na década de 20. Naquela época, uma rádio de Connecticut (EUA) chegou a transmitir concertos usando este padrão de som. Porém, como naquela época não havia transmissão de rádio em estéreo, ela transmitia o canal esquerdo em uma estação, e o direito em outra. Era necessário que o ouvinte tivesse dois aparelhos de rádio, algo caríssimo naquela época.

Apesar da imersão oferecida, o sistema caiu em esquecimento nas décadas seguintes. Como ele precisa ser apreciado usando fones de ouvido, as pessoas nunca deram muita bola, pois até a chegada do lendário walkman, fones de ouvido eram vistos como algo incômodo — as pessoas só se preocupavam em consumir música que fosse possível ouvir no aparelho de som em casa ou no carro.

A mais recente trilogia de Guerra Nas Estrelas usa e abusa do esquema de gravação bináureo
A mais recente trilogia de Guerra Nas Estrelas usa e abusa do esquema de gravação bináureo

Recentemente, na constante luta por oferecer uma experiência melhor, a indústria cinematográfica acabou resgatando o efeito, que tem sido plenamente utilizado na masterização sonora de filmes atuais — a nova trilogia de Guerra Nas Estrelas, de George Lucas, é um belo exemplo disto.

O grande barato é que essa experiência só acontece usando fones de ouvido. Ao usar caixas de som convencionais, o efeito se perde, pois novamente entra em ação o sistema de escuta humano e suas características, anulando o efeito.

O experimento é um ótimo exemplo de temas que vamos abordar aqui no Submusica no futuro: sobre como diferentes tipos de música e áudio requerem diferentes tipos de equipamento para serem escutados. Isso explica porque tanta gente vê graça em certos estilos musicais, enquanto outras não. Muitas vezes, é uma questão de imersão.

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♫ ♫ Educação Musical ♫ ♫

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Educação Musical é a educação que oportuniza ao indivíduo o acesso à música enquanto arte, linguagem e conhecimento. A educação musical, assim como a educação geral e plena do indivíduo, acontece assistematicamente na sociedade, por meio, principalmente, da industria cultural e do folclore e sistematicamente na escola ou em outras instituições de ensino.