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sexta-feira, 5 de junho de 2009
Formas Musicais I - Aberturas
Overture (do francês ouverture, que significa "abertura" ou "início"), também conhecida como abertura em português, é uma introdução instrumental a uma peça coral ou dramática, que durante o século XIX, após ser desenvolvida, passou a ser ela própria uma forma de composição.
Século XVII
A idéia de uma abertura instrumental para a ópera existiu durante o século XVII. Eurídice, de Jacopo Peri, inicia-se com um breve ritornello instrumental, e L'Orfeo, de Claudio Monteverdi, inicia-se com uma toccata (uma fanfarra com trompetes abafados). Mais importante, entretanto, era o prólogo, que compreendia um diálogo cantado entre personagens alegóricos que introduziam os temas abordados durante a história contada na obra.
[editar] Overture francesa
Como forma musical, entretanto, a chamada "overture francesa", teve início com os balés da corte e as overtures de ópera de Jean-Baptiste Lully, que ele desenvolveu a partir de uma forma similar de duas seções chamada "ouverture", encontrada nos balés da corte que datam por volta de 1640. Esta overture francesa consiste de uma introdução lenta num ritmo marcado, seguida de um vivo movimento em estilo fuga. Tal overture era frequentemente seguida por uma série de danças até a abertura das cortinas, e geralmente retornava com o prólogo para introduzir a ação propriamente dita.[1]
Tal overture francesa também foi usado na ópera inglesa, mais notavelmente Dido and Aeneas, de Henry Purcell. Seus distintos perfil e função rítmicas entretanto remetem ao estilo da overture francesa encontrado nos últimos barrocos como Johann Sebastian Bach. O estilo é mais usado em prelúdios e suítes, e pode ser encontrado em peças vocais não-teatrais como cantatas.
[editar] Overture italiana
Na Itália, uma forma distinta chamada "overture" surgiu por volta de 1680 e estabeleceu-se particularmente nas óperas de Alessandro Scarlatti, e se espalhou pela Europa suplantando a forma francesa como o padrão para as overtures de ópera em meados do século XVIII. Sua forma usual era geralmente de três movimentos homofônicos: rápido, lento, rápido. O movimento de abertura era geralmente marcado e em tonalidade maior; o segundo movimento curto e numa tonalidade contrastante; e o terceiro era uma dança, geralmente uma giga ou minueto, e retomava a tonalidade do primeiro movimento. À medida em que a forma foi se desenvolvendo, o primeiro movimento passou a incorporar elementos de fanfarra e tomou a então chamada "forma-sonatina" (forma-sonata sem a seção de desenvolvimento), e a forma lenta tornou-se mais extensa e lírica.[2]
Overtures italianas eram geralmente formas retiradas de suas óperas e executadas como peças de concerto independentes. Neste contexto, elas tornaram-se importantes no início da história da sinfonia.
[editar] Século XVIII
Com a crescente popularidade da ópera italiana e da forma-sonata, a overture francesa caiu de moda. Christoph Willibald Gluck — cujas observações sobre a função da overture no prefácio de Alceste são históricas — se baseou nos modelos italianos, de textura pouco definida. Àquela época, dos últimos trabalhos de Wolfgang Amadeus Mozart, o estilo da overture e da sonata diferenciavam-se claramente da música puramente sinfônica. Instâncias desta mudança são a sinfonia em sol de Mozart, que é uma overture para uma ópera desconhecida, e suas overtures para Die Entführung e Lo Sposo deluso, onde a cortina se abre numa passagem particularmente dramática. A última overture de Mozart, Die Zauberflöte (A Flauta Mágica), de 1791, parece apontar para o modelo rossiniano, com seu início longo e lento, uma pesada introdução levada de forma passional até o tema principal. Nas mãos de [[Ludwig van Beethoven] o estilo e forma da overture distanciaram ainda mais daquela na sinfonia.
[editar] Século XIX
Embora Gioachino Rossini tenha cessado suas overtures após Guilherme Tell em 1829, as overtures do século XIX amplamente focaram em formas desenvolvidas há muito tempo atrás, primariamente a ópera-bufa italiana. A primeira overture de ópera profissional de Rossini, La cambiale di matrimonio, de 1810, ignorou a forma sonada estrita, empregando uma grande abertura, uma lenta introdução, primeiro tema principal e uma extensa ponte para o segundo tema principal, um crescendo e uma seção de encerramento. Tentativas neste estilo podem ser claramente percebidas em overtures de Adolphe Charles Adam, Carl Maria von Weber, Giuseppe Verdi, Hector Berlioz e outros, embora nenhum deles tenha alcançado a reputação de Rossini em termos de composição de overtures que, enquanto estilo simples, requer uma quantidade de idéias melódicas inspiradas.
Entretanto, Guilherme Tell tem servido de forma mais apropriada como modelo para a overture romântica do século XIX, com sua forma revolucionária de quatro partes, tendo o grandioso efeito de uma mini sinfonia, expandindo os limites da ópera do século XIX como um todo. A abertura de Guilherme Tell sinalizou o fechamento do período clássico para música de atuação de palco, abrindo caminho para Giacomo Meyerbeer e Richard Wagner, sendo influente em trabalhos tão distantes como a Abertura 1812 de Pyotr Ilyich Tchaikovsky e Orphée aux enfers de Jacques Offenbach.
[editar] Ópera moderna
Na ópera moderna, a overture, "vorspiel", "enleitung", "introduction" ou como quer que seja chamada, é geralmente algo não muito mais definido que a porção da música que aparece antes das cortinas se abrirem. Tannhäuser é o último caso de grande importância onde a overture (da forma como foi escrita originalmente) é de fato uma peça instrumental completa prefixada para uma ópera num estilo dramático trágico e contínuo. Na ópera leve, onde formas seccionais ainda são possíveis, uma overture em separado não fica descolocada, embora Carmen seja notadamente dramática a ponto de que sua overture visualiza o final trágico e leva diretamente ao abrir das cortinas.
A vorspiel de Lohengrin, de Wagner, é um único movimento curto fundado na música de adoração. Ela não representa uma nova ruptura da forma clássica da overture além daquela mostrad cinquenta anos atrás pelas interessantes overtures Ariodant e Uthal, de Étienne Méhul, onde nesta última uma voz é ouvida várias vezes pelo palco antes das cortinas se abrirem.
A vorspiel de Die Meistersinger von Nürnberg, embora necessitando apenas de um último acorde tonal para ter uma finalização, leva à abertura das cortinas. A vorspiel de Tristan und Isolde foi finalizada para uso em concerto pelo próprio Wagner, e a considerável duração do trecho adicionado mostra quão calculada para a existência independente da vorspiel original ela foi. Por último, a vorspiel de Parsifal é uma composição finalizada para uso em concerto por Wagner com o uso de mais alguns compassos.
Os prelúdios orquestrais para os quatro dramas de Der Ring des Nibelungen são meras preparações para que as cortinas se abram, e estes trabalhos não podem ser ditos como tendo overtures muito mais do que Falstaff de Verdi ou Salomé de Richard Strauss, onde as cortinas abrem-se após a primeira nota da música.
[editar] Operetas e musicais
Muitas operetas e óperas leves do século XIX substituíram a forma overture por um potpourri, baseado nos temas que viriam a seguir. Arthur Seymour Sullivan, por exemplo, raramente escrevia suas próprias overtures uma vez que, seguindo o formato potpourri experado por uma ópera cômica inglesa, qualquer orquestrador competente poderia ser confiado à tal tarefa.
As overtures contemporâneas do século XX acompanhando os musicais quase sempre seguiram este padrão, consistindo de segmentos das canções mais populares no musical — embora alguns musicais dispensem completamente uma overture. A overture é tocada geralmente antes do musical começar. Entretanto, num resgate recente de Kiss Me, Kate, de Cole Porter, a overture aparece após o refrão de abertura ("Another Op'ning, another show"), com o refrão permanecendo no palco. Na produção original de 1948 e todas as produções até 1999, a overture aparece em seu local usual, antes da primeira música.
[editar] Overtures para concerto
Embora por volta do século XVIII as overtures das óperas já tivessem começado a ser executadas como itens separados em salas de concerto, a overture para concerto concebida especificamente como uma peça de concerto individual sem referência à performances de palco — e geralmente baseadas em algum tema literário — começaram a aparecer, no início da era romântica. Carl Maria von Weber escreveu duas overtures de concerto, Der Beherrscher der Geister (1811, uma revisão da overture para sua ópera Rübezahl, de 1805, inacabada) e Jubel-Ouvertüre (1818, incorporando God Save the King em seu clímax). Entretanto, A Midsummer Night's Dream (1826), de Felix Mendelssohn Bartholdy, é tida como a primeira overture de concerto. Outras contribuições de Mendelssohn para o gênero incluem Meeresstille und glückliche Fahrt (1828), Hebrides (1830) e Die schöne Melusine (1834). Outras notáveis overtures de concerto pioneiras foram escritas por Berlioz: Les Fancs Juges (1826) e Le Corsaire (1828).
Robert Alexander Schumann escreveu overtures baseada na literatura de Friedrich Schiller, William Shakespeare e Johann Wolfgang von Goethe: A Noiva de Messina, Julius Caesar e Hermann and Dorothea, respectivamente. Embora essas overtures derivem sua inspiração musical de trabalhos literários, Schumann não compôs música para o trabalho inteiro (como se fosse uma ópera), e nem necessariamente intencionou uma performance declamada subsequente. Schumann e Tchaikovsky, de fato, incorporaram parte do hino nacional francês, La Marseillaise, em suas overtures Hermann und Dorothea e Overture 1812, respectivamente, o que indica a natureza independente desse tipo de overture.
[editar] Poema sinfônico
Na década de 1850 a overture de concerto passou a ser suplantada pelo poema sinfônico, uma forma imaginada por Franz Liszt em vários trabalhos que começaram como overtures dramáticas. A distinção entre os dois gêneros foi a liberdade de moldar a forma musical de acordo com requerimentos programáticos externos. O poema sinfônico tornou-se a forma preferida de compositores mais "progressivos" como César Franck, Richard Strauss, Alexander Scriabin e Arnold Schoenberg, enquanto compositores mais conservadores como Anton Rubinstein, Tchaikovsky, Johannes Brahms e Sullivan permaneceram na overture.
À época em que o poema sinfônico já era popular, Brahms escreveu sua Akademische Festouvertüre e sua Tragische Ouvertüre, opp. 80 e 81, com esta última encapsulando uma grande variedade de emoções, que também poderia ser tomada como um poema sinfônico, embora não tenha sido definida como tal pelo compositor. Um outro exemplo de forma limite é a Overture 1812 de Tchaikovsky. Sua igualmente bem-conhecida Romeu e Julieta é geralmente classificada como "overture-fantasia".
Na música européia pós-1900 a overture tradicional era escassamente relevante, embora o nome continuasse em uso como uma dentre muitas alternativas para descrever uma peça orquestral, geralmente para uma ocasião festiva, em um único movimento de duração moderada. Uma exceção notável e tardia mostrando uma conexão com a forma tradicional é a Festive Overture (op. 96, 1954) de Dmitri Shostakovitch, onde há duas seções conectadas, "Allegretto" e "Presto".
[editar] Cinema
Em filmes, as overtures são geralmente usadas como música para sinalizar o clima da obra antes que os créditos comecem.
Notáveis exemplos são King Kong (1933), Gone with the Wind (1939), East of Eden (1955), Ben-Hur (1959), Spartacus (1960), West Side Story (1961), Lawrence of Arabia (1962) e 2001: A Space Odyssey (1968). 1979 foi o último ano em que um grande estúdio norte-americano fez uso de uma overture, com os filmes Star Trek: The Motion Picture e The Black Hole, embora o filme Dancer in the Dark, de 2000, tenha incluído uma overture, e Kingdom of Heaven (2005) tenha uma overture na edição do diretor. Muitos desses filmes épicos também possuem intermezzos e músicas de encerramento que, junto com as overtures, foram geralmente cortados para a exibição em TV e só podem ser encontradas em DVDs recentes. Algumas dessas "músicas incidentais" foram feitas para as premiéres dos filmes e foram subsequentemente cortadas nas estréias ordinárias.
[editar] Overtures na música popular
Alice Cooper tem uma faixa no álbum Pretties for You intitulada "Titanic Overture".
A banda Rush, no álbum 2112, utiliza uma overture para a faixa título.
O Def Leppard tem overtures no The Def Leppard E.P. e no álbum On Through the Night.
O Dream Theater tem uma faixa intitulada "Overture 1928" como uma abertura para o álbum Metropolis Pt. 2: Scenes from a Memory, bem como uma overture na faixa título de Six Degrees of Inner Turbulence.
O Manowar utiliza duas overtures no álbum Gods of War, "Overture to the Hymn of the Immortal Warriors" e "Overture to Odin", ambas músicas instrumentais de orquestra.
O Savatage tem a primeira faixa intitulada "Overture" no álbum Dead Winter Dead.
A ópera rock Tommy, do The Who, possui uma overture. Ela contém partes de outras músicas e dá início à história. O lado B do álbum começa com uma faixa chamada "Underture".
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