No Quarteto para Cordas No. 16 em Fá maior Op. 135 (1826), Beethoven escreveu sob as primeiras notas desse tema as palavras “Muß es sein?” (“Deve ser isso?”). As palavras se encaixam no ritmo das primeiras notas, então é como se pudéssemos ouvir o cello e a viola cantando “Muuuß es seeein?”. Sempre a essa frase, os violinos cantam um lamento, até que chega um
ponto em que começam a
soltar como que gritos estridentes de desespero! Há uma oposição clara
entre cello e viola (graves) x violinos (agudos). Mas depois desse
período inicial do movimento em que a gravidade põe em risco uma
resolução mais otimista para a obra, surge um tema novo, mais rápido e
aberto. Sob essas primeiras notas Beethoven escreve “Es muß sein!”
(“Deve ser isto!”), e ouvimos o violino saindo e cantando “Es muuuß
sein!” quase como Arquimedes saindo pelado da banheira gritando
“eureka”. É o verdadeiro “ser ou não ser” da música, e a partir daqui
sabemos que o tom da conclusão da obra terá outro rumo, um rumo
conquistado depois de uma difícil decisão. Esse tipo de dilema dramático
e existencial também acontece em obras como a Quinta Sinfonia, o
Quarteto “Serioso” e a Nona Sinfonia, nesta última com as idéias sendo
literalmente negociadas na frente do ouvinte, quando os contrabaixos vão
rejeitando os temas anteriores da obra até brindarem o Tema da Alegria.
Voltando ao nosso quarteto, o tema dramático da introdução ainda vem
receber um tratamento especial: ele volta no Desenvolvimento, e é
literalmente rabiscado, anulado pelos violinos! É como se aos gritos o
terror pudesse ser dissipado, e o “Es muß ein” agarrado com uma
esperança indobrável. No fim não resta dúvida: é o “Es muß sein!” quem
dá a última palavra (ufa!) para a conclusão da obra.
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