13 – Escalas e tonalidades
Criar melodias, ou seja, compor música, é uma arte que não se ensina. Mas, do mesmo jeito que aprendemos a escrever sem ter a obrigação de nos tornamos escritores, podemos aprender a escrever música.
Uma vez que já conhecemos ritmo e melodia, usemo-los. Como criar uma melodia? Sei lá, invente uma. Não consegue? Tudo bem, não tem problema. Vamos usar uma já feita por aqueles cabeludos de Liverpool.
Vejamos o primeiro compasso de "Across the Universe", do Let it Be.
Observando atentamente, quais elementos podemos identificar? Bom, vemos que o compasso é 4 por 4, ou seja, temos 4 batidas, sendo que cada batida é representada por uma semínima. Temos duas semínimas e quatro colcheias (que valem 2 semínimas, como se lembram). Isso é o que podemos identificar.
Repare que no começo da partitura existem dois sinais #. O que representam?
Até agora falamos de músicas, mas nos limitamos exclusivamente às teclas brancas do piano. Se estão bem lembrados, quando aprendemos a escrever as notas só soubemos como escrever as brancas. E as tais teclas pretas? Como se chamam? Para que servem? É o que veremos agora.
Frequentemente escutamos que "tal melodia está em um tom muito alto." "Tom" de uma melodia representa em que escala foi escrita.
Isso requer um pouco de atenção:
Se tocarmos, no piano, uma escala, teremos um determinado som. Se começamos esta escala pelo dó, tocando todas as teclas brancas até atingirmos o outro dó, temos uma escala, isto é, um conjunto de notas. Esta escala que tocamos é a de dó maior, a mais simples que existe.
E se tivéssemos começado pelo ré, ou pelo fá, ou por qualquer outra? Teríamos, com efeito, outra escala. Só que, como você deve ter notado, o conjunto de sons é muito diferente daqueles obtidos quando tocamos de dó a dó. Por que isso?
Porque os intervalos são diferentes. Ah sim, o que é intervalo? É a distância entre uma nota e outra. Não, não é medida em centímetros, mas em tons e semitons. Um semitom é a menor distância existente entre duas notas. No teclado do piano, temos um semitom se tocarmos uma nota qualquer e a nota que estiver ao seu lado, seja branca ou preta. Experimente. Ótimo, isso é um semitom.
E um tom? É a soma de dois semitons. Agora raciocine comigo:entre uma tecla e a que está ao seu lado temos um semitom. Se tocarmos outra imediatamente ao lado, não teremos mais um semitom? Sim. Logo, semitom+semitom = tom.
Todas as escalas são formadas de conjuntos de tons e semitons, dispostos em uma ordem que se convencionou chamar de TEMPERADA:
Tom-tom-semitom-tom-tom-tom-semitom
Enrolou a língua? Ótimo, estamos no caminho certo. Essa escala de tons e semitons, (5 tons e 2 semitons) à qual os ouvidos ocidentais estão acostumados, é encontrada naturalmente se começamos a tocar de um dó a outro. Mas, se começamos a tocar a partir de um ré, não temos os intervalos descritos acima, mas
Tom-semitom-tom-tom-tom-semitom-tom
Diferente, portanto, do que estamos acostumados. Temos 5 tons e 2 semitons, mas dispostos de maneira diferente. Todavia, existe um meio de corrigir isso: basta usarmos as teclas pretas do piano, de maneira a, mesmo começando de uma nota diferente, obtermos a mesma combinação de sons do dó.
Para isso usamos os SUSTENIDOS e BEMÓIS, que elevam ou abaixam qualquer nota em * tom – ou seja, um semitom. Por exemplo, na começando pelo ré, temos que fazer o segundo intervalo, que é de meio tom, tornar-se um tom inteiro. Para isso, temos que acrescentar um sustenido à terceira nota, o fá. Portanto, já sabemos que na escala de Ré, o fá é sustenido.
Se continuarmos a observar as diferenças, veremos que os últimos tons e semitons estão invertidos nas escalas. Precisamos alterá-lo, fazendo com que o último intervalo seja um semitom. Como? Acrescentando um sustenido à última nota, o dó. Então, o dó, na escala de Ré, também é sustenido. Com o fá e o dó sustenidos, ou seja, elevados meio-tom, temos a escala original, com os mesmos intervalos da escala de dó:
Tom-tom-semitom-tom-tom-tom-semitom
Para não termos que ficar escrevendo, durante toda a música, o fá e o dó sustenidos, colocamos no começo da pauta os símbolos do sustenido diante das linhas ou espaços correspondente a essas notas, de maneira que, ao tocá-las, o executante saberá que deve tocar todos os fás como fás sustenidos, idem com os dós.
Ao tocarmos "Across the Universe", não precisamos escrever na partitura todos os sustenidos fixos, bastando indicá-los no começo da partitura.
Da mesma maneira que construímos a escala de Ré a partir da nota ré, podemos construir todas as outras escalas a partir de qualquer nota. Basta, para isso, adaptarmos os intervalos dessas escalas para ficarem iguais aos da escala de dó. Ás vezes, para alterarmos uma nota, ao invés de elevá-la meio tom precisamos abaixá-la. Para isto existe o sinal bemol, que diminui em meio-tom a nota.
14 – Escalas 2 – Convenções convencionais convencidas
Mas não precisa se desesperar, tampouco perder o sono tentando descobrir quais os tons que devem ser alterados para obtermos uma escala temperada, isto é, com intervalos iguais aos de dó maior.
É simples: quando dizemos que uma música está em Mi, por exemplo, basta lembrar que nesta escala as notas fá, dó, sol e ré são sempre tocadas como sustenidos. O mesmo vale para qualquer escala.
15 – Bequadros
Em três linhas: bequadros são sinais que, colocados antes de uma nota, anulam qualquer efeito dos sustenidos ou bemóis colocados no início da partitura. Trocando em miúdos, quando uma nota vier precedida de um bequadro, toque a nota branca. E se você estiver tocando violão? Se vira, toca a nota normal, chamada tecnicamente de natural.
16 – Conclusão
Claro que só com esse resumão você não se tornou um expert em música, muito menos em música clássica. Mas, como já disse, estes posts são apenas uma introdução. Ouça, ouça, ouça muito. A melhor maneira de aprender é conhecer as melhores obras. Como lembram dois filósofos franceses, Andre Vergez e Dennis Huisman, não é ouvindo o som dos pássaros que passamos a entender música, mas indo aos concertos. À propósito, sabe o que vai ter neste domingo no Parque do Cocó ou no Teatro José de Alencar?
Abraços a todos!
Maestro - Roberto Holanda
♪ Regente ♪ Músico Multi-Instrumentista e Vocalista ♪ Arranjador ♪ Compositor ♪
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terça-feira, 22 de dezembro de 2009
Teoria Musical - Com Exemplos na Obra Beatles (VI)
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